sexta-feira, 12 de junho de 2009

O desafio do pós-modernismo para a cosmovisão cristã.

O autor designa o pós-modernismo como um grande desafio a apologética cristã devido as suas visões em relação à verdade, a racionalidade e a linguagem. Mas historicamente os defensores da cosmovisão cristã têm como argumento que a cosmovisão bíblica é de forma objetiva verdadeira e racional (Is. 1.18; 1 Pe 3.15; Jd 3). Tendo como fonte a Bíblia que contém a revelação verdadeira e racional em forma lingüística (2 Tm 3.16,17). A apologética visa então demonstrar que a verdade bíblica pode ser reconhecida como verdade e que é capaz de sobreviver mesmo sob intenso ataque intelectual (2 Co 10.3-5).
É claro que existem ataques dos pós-modernistas para tentar enfraquecer o cristianismo tendo como argumentações que ele é irracional ou falso, criticam porque o cristianismo tem como alegação ser verdadeiro, racional e conhecível em uma forma lingüística, algo repugnante para os pós-modernistas, pois rejeitam a existência de uma verdade absoluta e da racionalidade efetiva, assim como também a noção de que a linguagem pode comunicar de maneira clara, assuntos de significado supremo.
O pós-modernismo sustenta que a verdade e determinada por várias construções sociais que são legadas por diferentes propósitos. Com isso várias culturas possuem seus “jogos de linguagem” que descrevem a realidade de maneiras diferentes. A destruição que o pós-modernismo faz a racionalidade e a verdade objetiva resume-se nesta frase: a verdade não reside em declarações que corresponde à realidade. A verdade passa a ser uma questão de perspectiva, algo que indivíduos e comunidade criam por meio da linguagem. Ao crer dessa forma pós-moderna joga-se fora a verdade objetiva. A idéia de se encontrar a verdade absoluta, objetiva e universal é considerada como parte do “projeto iluminista” fracassado, tendo inicio com René Descartes e levado a termo pelo ataque de Friedrich Nietzsche contra suas pretensões racionalistas.

A lógica da verdade
Ao contrário do que afirmam os pós-modernistas, a lógica não é produto do pensamento totalitário, masculino e branco. A lógica então é de suma importância pra todas as análises racionais. Sem a lógica não há o que fazer em relação a realidade. A lógica da verdade é a lógica da lei da não contradição. De forma primaria codificada, porém não inventada por Aristóteles, essa lei tem como afirmação que: “Nada pode ser e não ser, ao mesmo tempo, em relação a um mesmo aspecto”, então nada pode ser o que não é. Por exemplo, Jesus, Ele não pode ser, ao mesmo tempo, sem pecados e pecador. Se Existe apenas um Deus, não pode haver muitos deuses. Este principio de lógica não é exclusivo dos cristãos. É certamente uma verdade expressa em toda a criação, e de como Deus nos ordenou a pensar. Deus é coerente e não pode mentir (Hb. 6.18). Deus não pode negar a si mesmo e ser falso. Deus não pode fazer algo que seja do mesmo modo e ao mesmo tempo, verdadeiro e falso. Ele próprio nos fez pensar assim, de acordo com a realidade, de forma lógica. Podemos ver também a lei do meio excluído, segundo a analise do antropólogo Ernest Gellner. Esta lei tem o mesmo significado da lei da não contradição, isso é de que nenhuma proposição e sua negação podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Por exemplo, Javé é o Senhor ou não é. Não há uma opção intermediária. Vejamos Jesus quando este assume este principio e faz esta advertência: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e amará o outro”. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro. (Mt. 6.24). Com isso tais elementos que a lógica dispõem são instrumentos para termos um trabalho frutífero nas áreas da apologética, filosofia e todo pensamento racional, caso contrário ignorando ou relativizá-los é ser irracional e cometer suicídio intelectual.

A visão bíblica da verdade
A partir de uma cosmovisão bíblica sobre a verdade é possível reprimir os ataques dos pós-modernistas. As Escrituras utilizam as palavras gregas e hebraicas para verdade e suas derivações de forma bem clara. Segundo o termo hebraico emet, que vem a ser a raiz de grande maioria das palavras hebraicas relacionadas à verdade que nos dá a idéia de suporte ou estabilidade. Essa raiz vem então dar a dupla noção de verdade com fidelidade e conformidade com o fato. Deus é verdadeiro ou fiel a sua Palavra, assim como em Suas atividades e atitudes; Deus é o Deus da verdade. Como se pode ver na oração de Davi: “Nas tuas mãos entrego o meu espírito; Resgate-me Senhor, Deus da verdade” (Sl 31.5; II Cr 15.3). Dentre as variantes da palavra hebraica emet na Bíblia dos hebreus não há indicio algum de que a palavra verdade é um termo para designar crença ou um simples costume social, uma vez que crenças podem ser falsas e costumes sociais contrários a vontade de Deus.
Prova disso, quando Jeremias ataca a falsidade e a infidelidade de seu povo dizendo: “Como vocês podem dizer: “Somos sábios, pois temos a lei do Senhor”, quando na verdade a pena mentirosa dos escribas a transformou em mentira?” (Jer. 8.8).
No Novo Testamento a palavra usada para descrever verdade é Aletheia e suas derivações que mantém a idéia de "conformidade com o fato” expressa pelo termo hebraico emet. Tanto no Antigo quanto o Novo Testamento fazem um contraste claro entre a verdade e a mentira. João em sua primeira epistola nos alerta quanto ao discernimento quanto ao “Espírito de verdade e ao espírito do erro” (I João 4.6). Até mesmo Jesus diante de Pilatos fez distinção entre verdade e engano: “De fato por esta razão nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. “Todos os que são da verdade me ouvem” (Jo 18.37).
Esse conceito bíblico de verdade significando fidelidade ao fato objetiva demonstra que a verdade revelada por Deus é absoluta, invariável e sem exceção ou isenção, nem tampouco mutável ou passível de revisão. Esta questão de que a verdade bíblica é absoluta fica clara quando Jesus diz: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. “Ninguém vem ao Pai a não ser por mim” (João 14.6). A verdade absoluta do evangelho não esta sujeita a condições humanas ou procedimentos democráticos, não que os cristãos tenham o conhecimento absoluto sobre Deus, mas sim que Deus revelou seu único e exclusivo caminho para a salvação, Jesus Cristo que se fez conhecido na história com registra as escrituras e confirmado por meio do Espírito Santo. De forma contrária aos pós-modernistas, a metanarrativa bíblica não conduz a opressão e a arrogância, pois tem como centro a revelação de um Deus que é bondoso, amoroso e santo, que deixou a responsabilidade ao seu povo de comunicar as verdades absolutas.

Problemas com o Pós-modernismo

As filosofias seculares pós-modernistas afirmam que a verdade é uma construção social incapaz de nos conduzir a realidade objetiva.

Perspectivismo de Nietzche: Muitos ângulos nenhuma verdade.

Essa afirmação pós-modernista vem da filosofia do perspectivismo de Nietzche, que muito os tem influenciado as abordagens pós-modernas sobre a verdade. Nietzche alega que não há fatos, mas apenas interpretações (ou construções) criadas de acordo com necessidades particulares, como visão uma melhoria de vida, o que denominou de “vontade de poder”. Esta concepção vem a definir que não há “mundo verdadeiro” apenas uma aparência exterior cuja origem está em nós. Tudo se resume a uma perspectiva pragmática e relativa. Com isso há muitos tipos de verdades e não há uma verdade. Todos nós em certo ponto temos perspectivas diferentes, que podem ser geradas de preconceito, discriminação, ignorância, e arrogância e assim por diante, mas perspectivas não determinam a verdade. Uma perspectiva pode ser parcialmente ou totalmente falsa, porém o seu valor é avaliado por sua veracidade. Todos possuem uma perspectiva, ninguém possui a verdade- e essa é a verdade.


Confusões pós-modernas sobre a verdade na linguagem

Segundo o conceito pós-moderno a palavra verdade é apenas uma criação da linguagem que possui vários usos em diversas culturas. Ela vem a expressar propósitos, costumes, emoções e valores, mas não pode ser representante da própria realidade. Para eles nosso conhecimento da realidade é realizado por nosso conhecimento da linguagem, como se fosse um mapa. Então a linguagem torna-se um tipo de prisão de significados que nunca podem ser conectados ao significado fora de si mesmo. Os pós-modernistas argumentam que a semântica e a sintaxe das linguagens humanas são arbitrarias, isto é são impostas, são construções sociais. A partir da maneira pelas quais as pessoas compreendem a realidade depende da natureza de seus idiomas. Essas observações levam os pós-modernistas a considerarem as linguagens como sistema auto-referenciais e fechados em si mesmo.
Mas segundo John Searle, filósofo contemporâneo observou: “Pelo fato de uma descrição poder apenas relacionar-se a um conjunto de categorias lingüísticas, não implica que os fatos/estados de coisas etc. descritos possam apenas existir em relação a um conjunto de categorias. Como aplicamos os termos é incerto nas várias línguas.
Os pós-modernistas confundem a relatividade da seleção do termo (variação semântica) com uma inabilidade da linguagem de representar realidade verdadeira e objetiva.
A idéia de que a linguagem define o pensamento é suspeita, pois segundo observou o epistemólogo Alvin Goldman, os bebês têm demonstrado possuir categorias lógicas antes de falarem ou compreenderem qualquer tipo de linguagem. Então esta visão dos pós-modernistas quanto a linguagem é inadequada e falsa.

Dilemas éticos

O pós-modernismo enfatiza a diversidade das afirmações sobre a verdade, particularmente em cenários pluralistas, porém, não fornece nenhuma chave para testar essas alegações contra a realidade. A verdade é o que faz e nada mais. Mas diante dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 levou até mesmo o New York Times a questionar algumas suposições. No dia seguinte ao ataque o jornal publicou um editorial escrito por Edward Rothestein, que dizia: “Cataclismas não somente lançam sombras sobre as vítimas humanas, mas também estremecem os alicerces da vida intelectual”. Em sua opinião os eventos ocorridos naquele dia desafiaram a perspectiva do pós-modernismo, pois negam que a “verdade e o julgamento ético possuem validade objetiva”. Continuando seu editorial Rothestein diz: “No entanto tais afirmações parecem peculiares quando tentamos avaliar o recente ataque. A destruição parece clamar por uma perspectiva ética transcendente”. Mesmo o relativismo moderado parece perturbador pelo contraste. Perspectiva ética transcendente fala da vontade de Deus.
Foucault como pós-modernista e anarquista tem a idéia de que os padrões objetivos da ética como construções para dar suporte a sistemas opressores.
Os pós-modernistas encontram dificuldade nesta questão de que as declarações morais podem ser objetivamente verdadeiras. Quando Deus é eliminado a humanidade é anulada, e a ética é corroída. Somente a anarquia e a loucura permanecem. (Pv 8.36).

Conclusão: Deixemos o pós-modernismo para trás

Estas pressuposições centrais dos pós-modernistas, isto é verdade, racionalidade, linguagem e ética precisam ser compreendidas e criticadas pelos apologistas cristãos, pois, tais idéias em geral entram em confronto com a cosmovisão cristã.
Segundo os autores:
“Embora o testemunho cristão deva ser astuto em relação às realidades de condição pós-moderna a fim de tornar a mensagem cristã histórica compreensível e pertinente aos habitantes do mundo contemporâneo, isso não significa que devemos, no processo, nos transformar em pós-modernista”.


André L. Rubinho

BECKWITH, Francis J.; CRAIG, Willian Lane.; MORELAND, J.P. Ensaios apologéticos – Um estudo para uma cosmovisão cristã. Hagnos, São Paulo: 2006.

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