sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Teologia da prosperidade e a doença


Nos dias de hoje é notável o crescimento de pregações que priorizam a riqueza e a saúde a qualquer custo. Porém surge uma questão a ser resolvida diante destas perguntas: “o crente pode ficar doente ou morrer devido a alguma doença?”. Certamente muitos de forma enfática diriam “não”, mas muitos outros diriam “sim”, pois buscam entender o que a Bíblia ensina sobre esta questão. Os que dizem “não’ se fundamentam em suas próprias definições, usando a Bíblia como pretexto para defender suas idéias mirabolantes, baseando-se em uma teologia que afirma que o crente deve se apropriar dos benefícios do texto de Isaias 53.4-5 e que o crente “verdadeiro” nunca deveria contrair qualquer doença, usando textos fora de seus contextos, algo totalmente inaceitável para uma hermenêutica saudável, como uma frase muita conhecida “um texto sem contexto é um pretexto para heresia”. Devido ao crescimento absurdo de tal teologia no Brasil nas últimas décadas, se faz necessário entender de forma resumida como ela surgiu e quais são seus fundamentos, porém neste texto o objetivo é destacar a questão da doença conforme os defensores desta teologia acreditam e o que a Bíblia diz.

O surgimento da teologia da prosperidade
A teologia da prosperidade surge através de Essek William Kenyon que nasceu em 24/04/1867, Saratoga, Nova York, EUA, falecendo em 19/03/1948. Conforme Pierrat, ele tinha pouco conhecimento teológico e tinha afinidade com Mary Baker Eddy, fundadora da seita herética “Ciência Cristã”, que afirma que doença e a matéria não existem, simplesmente tudo depende da mente. Kenyon pastoreou igrejas batistas, metodistas e pentecostais, mas depois desligou –se dessas igrejas não tendo acordo com nenhuma delas. Sofreu influências das seitas metafísicas (além da física) como ciência de mente, ciência Cristã e Novo pensamento, que é precursor do “Movimento da fé”, que diz que tudo que você disser e pensar se tornará realidade, o poder da mente. Desenvolveu seus ensinos nos anos 30 a 40. Logo após vem seu discípulo Kenneth Haggin, autor de vários livros publicados no Brasil, tendo como ensino a chamada confissão positiva, entendendo que se pode obter tudo de Deus desde que confessando em voz alta, não duvidando da obtenção da resposta. Sofreu criticas dos seus escritos por serem muito parecidos com os livros de Kenyon, mas sempre se defendeu dizendo que não era plágio e sim revelações diretas de Deus como o mesmo conteúdo. Porém nem mesmos os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, apesar de serem semelhantes não são idênticos. Outro nome referente a tal teologia é Keneth Coopeland, seguidor de Haggin, que certa vez disse que “Satanás venceu Jesus na Cruz” (Hanegraaff, pg. 36). Porém um nome muito conhecido no Brasil é Benny Hinn, que fez muito sucesso quando esteve por aqui e também devido aos seus livros. Benny diz também ter tido uma revelação de Deus de que as mulheres originalmente deveriam dar à luz pelo lado de seus corpos e que Jesus “... assumiu a natureza de Satanás, para que todos quantos tinham a natureza de Satanás pudessem participar da natureza de Deus”. Tal declaração se encontra no trabalho crítico de Hank Hanegraaff, Cristianismo em Crise, editado pela CPAD (p. 36, 166). Estes são alguns nomes conhecidos dos defensores da teologia da prosperidade, vejamos agora alguns pontos que eles se baseiam que devemos entender.

Fundamentos

1. Autoridade espiritual - Profetas. Segundo Kenneth Hagin, Deus tem dado autoridade, isto é uma “unção” especifica aos profetas dos dias atuais com a mesma autoridade que tinham os profetas no Antigo Testamento e diz receber revelações diretas do Senhor. Porém é certo que o ministério profético do Antigo Testamento durou até João Batista (MT. 11.13). Ser profeta nos dias atuais é ser ministros da Palavra (Ef. 4.11) e o dom da profecia (I Cor. 12.10) é diferente da autoridade profética do A.T.

2. Autoridade das revelações. Acreditam ter total autoridade das revelações baseadas em “experiências” como, visões, profecias, entrevistas com Jesus, curas, nuvens de glória, etc. E dizem que quem rejeitar seus ensinos “serão atingidos de morte, como Ananias e Safira” (Pierratt, p. 48).

3. Homem são deuses. Diz Haggin: "Você é tanto uma encarnação de Deus quanto Jesus Cristo o foi..." (Hagin, Word of Faith, 1980, p. 14). "Você não tem um deus dentro de você. Você é um Deus" (Kenneth Copeland, fita cassete The Force of Love, BBC-56)

4. O cristão não deve adoecer. Ensinam que todo o cristão deve esperar viver 70 ou 80 anos, ainda mais sem dor e sofrimento, quem for acometido de alguma doença é porque não reivindica os seus próprios direitos diante de Deus ou porque não tem fé (Pierrat, p.135). O texto de Isaias 53 é algo absoluto, sendo assim não existe mais doença para o crente, pois fomos sarados. (Detalharemos este ponto mais adiante).

5. O Cristão não pode ser pobre. Os discípulos de Haggin, acentuam que o cristão deve ter casa nova própria (é inadmissível morar em casa alugada), deve se vestir com as melhores roupas, vivendo uma vida luxuosa. Porém a Bíblia não enaltece a riqueza, mas também não a proíbe, desde que esta seja adquirida de forma honesta. Mas o apóstolo mais uma vez nos ensina o que aprendeu, isto é, contentar-se em todos as situações (Fp. 4.11,12; I Tm. 6.8). O nosso Cristo em nenhum momento pregou prosperidade as pessoas, mas somente o reino de Deus, enfatizando que estes deveriam ouvir suas palavras (João 15.7). Também disse que a vida não se constitui de riquezas (Lc. 12.15). Após Jesus os apóstolos não foram pessoas ricas, nem possuíam extraordinários bem materiais, por saberem do perigo das riquezas (I Tm. 6.7-10).
São muitos os absurdos que os defensores da teologia da prosperidade acreditam, sendo totalmente deturpações bíblicas e fantasias da mente humana. Neste momento focaremos a seguinte questão, “o crente pode ficar doente”? Vejamos:

O ser humano é mortal
Certamente o homem não foi criado para morrer fisicamente, foi criado para viver eternamente, mas devido ao pecado pelo fato de ter ouvido a serpente a humanidade sofreu a conseqüência, isto é a morte, “Com o suor do seu rosto você comerá o seu pão, até que volte a terra visto que dela foi tirado: porque você é pó e ao pó voltará” (Gênesis 3.19). A morte física é uma doença, envelhecer também é uma doença. Segundo os médicos, o ser humano nasce e tem sua trajetória até por volta dos 35/40 anos de forma crescente, ou seja, no ápice físico. Porém a partir daí começa outra trajetória, a decrescente na qual chega a morte, chamada “morte natural”. Desta forma decrescente o corpo começa a morrer devido ao envelhecimento biológico. Assim a morte que é uma realidade que todos enfrentaremos manifestasse muito antes do que imaginamos, isto é no meio da vida do homem. Desta forma vem a ser uma doença que começa a se manifestar no meio da vida do homem e se acentuará na sua velhice levando o a morte física.
Então diante destes fatos o crente pode ficar doente? Pode morrer doente? Observemos alguns personagens bíblicos tiveram doenças sendo grandes homens de Deus.
O profeta Eliseu (2 Reis 13.14a, 20). “Ora Eliseu, estava sofrendo da doença da qual morreria. Então Eliseu morreu e foi sepultado”. Isaque, “Tendo Isaque envelhecido, seus ossos ficaram tão fracos que ele já não podia enxergar”(Gênesis 27.1). Timóteo “Não continue beber somente água; tome também um pouco de vinho, por causa de seu estômago e das freqüentes enfermidades” (I Timóteo 5.23). Porque Paulo sendo seu pai na fé e apóstolo não ministrou a cura para Timóteo?. Trófimo “Erasto permaneceu em Corinto, mas deixou Trófimo doente em Mileto (2 Tm. 4.20). O próprio apóstolo Paulo ficou doente (Gal. 4.13-15), e agora será que ele estava em pecado?. E ainda mais sofria com o espinho na carne (II Cor 12.7-9). E nem podemos esquecer o que Jesus disse: “No mundo, tereis aflições...” (João 16.33). No tanque de Betesda havia vários doentes, mas Jesus só curou um paralitico (João 5.3,8,9), pois Jesus fazia a vontade do Pai (João 8.28,29).
Tudo isto serve para demonstrar que nossa vida está nas mãos de Deus e nada depende de nós neste contexto, pois na vida do crente em Cristo não há acaso, ou destino, mas sim a vontade de Deus como nos diz I João 5.14: “E esta é a confiança que temos nele: se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve”. O que não podemos fazer é retirar da palavra de Deus versículos isolados e dizer o que se bem entende. Quando isto acontece surge uma inversão de posições, Deus criador passa a ser criatura, e a criatura se torna criador, colocamos Deus para nos servir, algo que deveríamos fazer. Porém isto não limita o poder do nosso Deus, ELE CURA se quiser, o comando vem dele, aquele que ministra a cura nada mais é um instrumento de Deus e que deve orar sim, para que o doente seja curado (Tiago 5.14), mas sempre no final da oração deve dizer: “seja feita tua vontade”, como nos ensina Jesus em Mateus 6.10.
Os defensores de tal idéia acreditam que se algum cristão está doente é por falta de fé ou possessão demoníaca, porém segundo nos ensina o apóstolo João em sua primeira carta “Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não está no pecado; aquele que nasceu de Deus o protege, e o Maligno não atinge” (5.18). Então precisamos nos render a soberania de Deus pois, o poder está em Deus e não na fé. Seguindo esta linha de pensamento aqueles que pregam a cura é somente pela fé deveria também afirmar que o crente não pode morrer.
Diante destes fatos o que devemos fazer? Voltemos para a Bíblia Sagrada e aprendamos dela sempre como disse o apóstolo Paulo a Timóteo: “Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que julgará todos os seres humanos, tanto os que estiverem vivos como os que estiverem mortos, eu ordeno a você, com toda a firmeza, o seguinte: por causa da vinda de Cristo e do seu Reino, pregue a mensagem e insista em anunciá-la, seja no tempo certo ou não. Procure convencer, repreenda, anime e ensine com toda a paciência. Pois vai chegar o tempo em que as pessoas não vão dar atenção ao verdadeiro ensinamento, mas seguirão os seus próprios desejos. E arranjarão para si mesmas uma porção de mestres, que vão dizer a elas o que elas querem ouvir. Essas pessoas deixarão de ouvir a verdade para dar atenção às lendas. Mas você, seja moderado em todas as situações. Suporte o sofrimento, faça o trabalho de um pregador do evangelho e cumpra bem o seu dever de servo de Deus”. (II Tm 4.1-5). Nem todos os que dizem pregar a verdade, a pregam-na realmente (Mateus 7.15-23).
Muito claro as palavras do apóstolo João; “Todo que vai além do ensino de Cristo e não permanece nele, não tem a Deus. Quem permanece no ensino, esse tem tanto o Pai como o Filho”. II João 1.9
Diante destas afirmações bíblicas, estejamos atentos a estes falsos ensinos, tendo como exemplo a atitude dos Bereanos que ouvindo a pregação do apóstolo Paulo examinavam diariamente as Escrituras para saber se o ensino de Paulo era correto (Atos 17.11).

Continue crendo no poder de Deus sobre tudo e todos, e aprendamos sempre da Palavra de Deus!!!

Por André Rubinho
Bibliografia

- Bíblia de estudo N.V.I
- Bíblia Sagrada Almeida Século 21
- Bíblia de estudo apologética
- GONDIM, Ricardo. O Evangelho da Nova Era. Abba, S. Paulo, 1993.

- HANEGRAAFF, Hank. Cristianismo em Crise. CPAD, Rio, 1996.

- ROMEIRO, Paulo. Super Crentes. Mundo Cristão, S. Paulo, 1993.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Quando a graça é desvalorizada


Certa vez uma chamada de reportagem sobre autoflagelo na TV e de repente apareceu a imagem de um homem pagando promessas de joelho que dizia: “Se Jesus sofreu porque não devemos sofrer”. Esta frase me levou a pensar o quanto a graça de Deus é desconhecida e desvalorizada por muitas pessoas que estão aprisionadas por seus próprios conceitos, que receberam talvez de seus pais, que por sua vez receberam de seus antepassados através de uma religiosidade e desconhecem realmente quem é Jesus.
Porém devemos relevar e perceber que tal conceito equivocado se encontra dentro de muitas igrejas “evangélicas” no Brasil, na qual levam seus membros a serem salvos por Cristo mediante aos seus próprios méritos ou obras e acabam destituindo a graça de Deus. Para entendermos melhor vejamos o significado de graça. A graça é uma palavra latina traduzida do grego Charis, que significa; graciosidade, benevolência, favor ou bondade. Nada mais é do que um presente de Deus para toda a humanidade.
A Bíblia nos diz em Efésios 2.8,9; Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.
Nada podemos fazer para conquistarmos a salvação por méritos próprios, pois Jesus Cristo já nos presenteou com ela, basta somente recebê-lo como Salvador de nossas vidas e viver uma vida de dedicação ao reino de Deus. Como Paulo nos diz em Tito 2.11; Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens e o Apóstolo João em I João 2.2 nos diz: E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo.
Porém este receber Jesus como Salvador não diz respeito a “aceitá-lo” quando convidado a ir à frente da igreja e repetir palavras ditadas pelo pastor ou por alguém. O aceitar a Cristo é no dia a dia através de uma transformação interna e demonstrações exteriores daquilo que ocorreu internamente, e tudo isso devido a ação regeneradora do Espírito Santo. Por isso devemos tomar muito cuidado com aqueles que por muitas vezes dizem ter “aceitado à Cristo” e continuam a viver uma vida desregrada sem ter a Palavra de Deus como direção. Não podemos esquecer dos liberais que se apóiam na graça para pecarem, dizendo “Cristo perdoa todos os nossos pecados, pra que se preocupar?”. Porém o Apóstolo Paulo nos ensina em Romanos 6.1,2: Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De modo nenhum. Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?
Mediante a isto devemos entender que Cristo nos deu a liberdade (Galatas 5.1), porém esta liberdade não é para fazer o que queremos, mas o que devemos, isto é, não sujeitar-se ao pecado e fazer a vontade de Deus.
Outra questão absurda sobre a graça é condicioná-la a uma lista de regras que devem ser seguidas de uma maneira que servir a Deus se torna um fardo incarregável e totalmente punitivo. Isso nada mais é que legalismo que condiciona a salvação a fatores externos, como vestimentas, cabelo, não jogar bola, não assistir TV, não ir ao cinema, entre tantas outras coisas. Tudo isso demonstra um desconhecimento total da graça de Deus, que nos mostra que a salvação requer de nós uma continua vida de santificação ao nosso Deus, mas nada disso diz respeito a fatores externos e sim internamente. Vivamos então a verdadeira graça de Deus em todo o tempo.